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segunda-feira, 30 de março de 2015

Será assim o futuro?

"Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.

Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito ( como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria? ), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar. 


De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.


Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “ casei-me com outra para te poder amar em paz ”. Ela disse: “ casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim ”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“ amo-te como um louco ”) e as palavras de outro (“ amo-te como uma louca ”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles."

de Pedro Chagas Freitas in ' Prometo Falhar '

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Para sempre.

"Quantas facas tem o teu não?
Como uma puta de uma desesperada aqui continuo, à espera de que venhas, à espera de que digas “amo-te”, à espera de que digas ” amo-te e sempre te amei e vou amar-te para sempre ”. Mas a única coisa que é para sempre é o que acaba. Acabou-se e é para sempre. Para sempre sem o sabor do teu beijo outra vez, para sempre sem o “estou-me a vir” do teu toque outra vez. O que nunca acaba é amar-te assim.
Quantos homens serão necessários para me esquecer do teu abraço?"

de Pedro Chagas Freitas in ' Prometo Falhar ' 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A felicidade que não volta.

"Custou-me, no começo, perceber como poderia existir a vida se não existias tu. Acordava, todos os dias, à procura do teu corpo, à procura do teu colo, à procura da tua mão, e acabava por ficar assim, toda a noite e todo o dia, à procura de ti em todos os locais onde fomos felizes. Nada magoa mais do que a felicidade que não volta, a felicidade que perdeste e que, sempre que a recordas, te martiriza em tão grande como em tão grande te deixou feliz."

de Pedro Chagas Freitas in ' Prometo Falhar '

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Amar-te.

"O drama de amar é não haver sucedâneos.

E tudo o resto sabe a merda. Porque houve o teu abraço, porque existe o teu cheiro. Amei-te para sempre mesmo que já não te ame. Ficou em mim a tarde em que pela primeira vez o nosso corpo (o teu arfar a mostrar-me que língua se fala no cėu, a tua boca a mostrar-me o tamanho de um beijo), e a partir daí fiquei órfão de um corpo sempre que não fosse o teu corpo. E quando chegou o dia da despedida eu soube que tinha chegado o dia de para sempre.

O drama de amar é não admitir a morte.

Há uma mulher a mais sempre que amo um corpo que não é o teu. E um homem a menos. Deito-me, aperto, espremo (o encaixe perfeito das tuas costas nos meus braços, o cheiro dos teus lábios no suor do meu pescoço). E até um orgasmo comprova a hipocrisia da carne. Despedi-me de orgasmos quando me despedi de ti. Já me deitei com tantas e é sempre o teu boa-noite que me adormece.

O drama de amar é só criar réplicas.

Tudo o que amo és tu. Uma boca, uma pele, um sexo. Tudo o que amo és tu. E não há mais perfeito oximoro do que «amor novo». Só o teu amor é novo. E não existe sucessão quando se reina assim. Amar-te é uma monarquia fascista, uma ditadura dentro de mim. O que vem depois de ti só vem depois de ti. Sempre depois de ti. A toda a hora depois de ti. O que vem depois de ti só vem depois de mim, e onde eu estou ou estou sozinho à tua espera ou estou sozinho contigo. Se existe amor é porque existes tu.

O drama de amar é amar-te."

de Pedro Chagas Freitas in ' Prometo Falhar '

Lose you. To love me.

7. You promised the world and I fell for it I put you first and you adored it Set fires to my forest And you let it burn Sa...